Em 1952 Antônio, Maria e Fernando Lobo compuseram um samba canção que se eternizou ao dizer: ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor. Essa, sem dúvida, poderia ser a música tema da baixa auto-estima.
Quarenta
anos antes o psicólogo austríaco Alfred Adler publicou um de seus mais famosos
trabalhos: O caráter neurótico. Os resultados das pesquisas que ele apresenta
neste livro culminaram por fundar o que conhecemos hoje como complexo de
inferioridade, um termo usado na descrição de um sentimento de inferioridade
que um indivíduo sente sobre si mesmo em relação a outras pessoas e/ou ao grupo.
Essa
sensação surge sempre que alguém experimenta um sentimento imaginado ou
condicionado de inferioridade. O que ocorre na maioria dos casos é que as
pessoas usam esses dois elementos, uma combinação de imaginação fértil e
condicionamento sutil ou não. Digamos então que você se sentiria inferior
diante de um evento no qual a sociedade julga que você está em condição de
desvantagem em relação aos demais, seja na profissão, na hierarquia, na estética
corporal, na condição financeira ou em sua capacidade intelectual. Nestes
casos, estamos lidando com condicionamentos culturais, ideologia e manipulação,
afinal quanto mais inferior o indivíduo se senti, haverá compensação para que
ele ou ela possa se sentir melhor, mesmo que temporariamente, o que é garantido
pelo consumismo extremo nos dias atuais. Todavia, como isso não preenche a
falta verdadeira, cria-se um ciclo de retroalimentação.
O
elemento imaginação ocorre quando a percepção que uma pessoa tem de um fato ou
de si mesmo extrapola o que seria normalmente razoável para a maioria das
pessoas, de forma que numa determinada situação apenas ela se acha inferior,
pois sua lente está embaçada e a visão de si mesmo turva, portanto incapaz de
analisar a realidade como ela de fato se apresenta.
Comumente
temos a tendência de reduzir a análise do complexo de inferioridade afirmando
que tudo está na mente do indivíduo e que, portanto, ele pode mudar a situação.
Os livros de auto-ajuda são pródigos em pregar que podemos, assim que
quisermos, superar muitas de nossas questões. Não sou contra livros de auto-ajuda,
e sim contra a simplificação da problemática humana, apresentada em muitos
desses livros como questões que podem ser resolvidas com receitas ou frases do
tipo: se olha no espelho e diga que se ama, que você é lindo(a).
Se
fosse tão simples, milhões de pessoas mudariam suas vidas apenas com
pensamentos positivos. O que acontece na verdade é que muitos terminam por se
frustrar uma vez que esgotam o uso da força de vontade e não vêem resultados,
pois continuam com os mesmos sentimentos.
É bom
lembrar que o complexo de inferioridade, nos campos da psicologia e da psicanálise,
é entendido ainda como um sentimento que na maioria das vezes é inconsciente, e
é pensado para conduzir os indivíduos atingidos a buscar, nos dias de hoje,
compensações extremas.
Repensar
valores é o começo da busca por uma vida melhor. Devemos deixar de nos
pautarmos exageradamente pelos valores dos outros ou da sociedade que nos
inferioriza. Ajuda muito se mantivermos um comportamento descrito na psicologia
como distanciamento emocional. Esse distanciamento pode significar duas coisas
distintas. No primeiro sentido, refere-se a uma incapacidade de se conectar com
os outros em um nível emocional, bem como um meio de lidar com a ansiedade,
evitando certas situações que o provoca, o que não deixa de ser uma fuga, que
nada resolve. O distanciamento saudável é aquele contido no segundo sentido
atribuído a ele, que vem a ser um tipo de afirmação mental que permite que as
pessoas mantenham suas fronteiras e integridade psíquica, quando confrontado
com as exigências emocionais de outra pessoa ou grupo de pessoas, especialmente
as exigências descabidas e extravagantes da sociedade em que vivemos.
Simplicidade
é sabedoria, afinal, como afirma Sigmund Freud, criador da psicanálise: “seríamos
muito melhores se não quiséssemos ser tão bons. Autor:
ROSSANDRO KLINJEY
Música: Ninguém te ama como eu
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