Rosemeire Zago
Decepção, medo, angústia, mágoa,
ressentimento, tristeza! Quantos sentimentos surgem no momento da separação. A
dor de uma relação que se acaba só pode ser avaliada por quem a vive e,
principalmente, por quem, apesar de separado, ainda sente amor. Por mais que
possamos imaginar como será, não conseguimos avaliar a profundidade do
sofrimento quando acontece.
Durante nossa vida, tendemos a
desistir muitas vezes de continuar. Isso geralmente acontece quando esperamos
atitudes e comportamentos que não acontecem; esperamos uma palavra e
encontramos apenas o silêncio; esperamos o abraço e recebemos o desprezo;
esperamos a presença e encontramos apenas a distância. Nos sentimos machucados,
feridos, decepcionados e dilacerados em nosso simbólico coração, onde guardamos
nossos sentimentos mais caros.
Quando permitimos que alguém faça
parte de nossa vida é porque acreditamos que cuidará de nosso amor como se
fosse dele próprio, que buscará realizar todos seus sonhos sim, mas agora a
dois. Mas em algum momento parece que tudo se perde, e o diálogo vai ficando
cada vez mais difícil, o aborrecimento e a tristeza começam a sobrepor-se à paz
e a vontade de estar junto e, a distância se instala. É hora de fazer algo para
mostrar que como está machuca muito. O mais indicado seria conversar, pensar e
juntos escolher um caminho, mas quando isso já foi tentado várias vezes, quem
sempre tenta vai se sentindo cada vez mais sem valor, inseguro, sem forças, e
tentar mais uma vez seria o mesmo que admitir isso.
Repensar na relação sozinho
implica numa decisão unilateral, que nem sempre significa o melhor e muito
menos corresponde aos sentimentos de quem toma a decisão; pois qualquer decisão
tomada irá refletir na vida das duas pessoas, então nada mais do que justo
dessa decisão ser tomada juntos, onde cada um possa expressar seus sentimentos
e chegar a uma conclusão, respeitando os sentimentos e desejos de ambos. Mas
nem sempre isso se torna possível, especialmente, quando um dos dois se cala e
se afasta, dando ao outro o direito de se sentir menosprezado, rejeitado,
abandonado e só. Sentimentos que machucam, não só pela ausência do outro, mas
também por tudo que é levado junto com sua partida, ou seja, todos os sonhos
que foram partilhados juntos e que agora não fazem mais sentido de existir sem
o outro que se foi.
Aqueles que viveram a experiência
do abandono quando crianças encontrarão muito mais dificuldade em aceitar ou
elaborar momentos como este, pois sentirão novamente a angústia do abandono
e/ou rejeição, desencadeando assim de seu inconsciente um passado que tanto
machuca e que agora é refletido em suas reações físicas e emocionais. Quando,
ao contrário, houve uma infância de afeto, segurança, presença; quando adultos,
enfrentarão momentos da separação com muito mais serenidade, tranqüilidade e
menos sofrimento.
Dizer acabou, não quer dizer
deixei de amar, por mais que possa parecer; talvez, esteja mais próximo de um
sonoro grito que diz: acorde, estamos nos perdendo, vamos mudar, mas juntos.
Colocar um final, mesmo com o coração partido, chorando, sangrando, pode ter
sido motivado muito mais pela rejeição e desprezo sentidos com o silêncio, a
distância, indiferença, falta de preocupação e cuidado com tudo aquilo que um
dia foi motivo de união, do que corresponder ao desejo de realmente separar-se.
E quem sabe pode significar muito mais uma busca desesperada de salvar o que
ainda há dentro de cada um: o amor! Separar pode ser a esperança de renovar,
fazer o outro pensar, um convite para a reflexão dos próprios sentimentos e do
que levou ao fato em si e lembrar que enquanto houver amor, nunca haverá
motivos suficientes para desistir.
E neste turbilhão de sentimentos,
nessa mistura de alívio e sofrimento, angústia e dor, da presença constante à
distância presente; abafamos nossos sentimentos, adormecemos nossos sonhos,
calamos nossas vozes, sufocamos nossas emoções, como se fossemos capazes de
evitar sentir a dor do presente e a saudade do passado, dos momentos vividos
juntos e congelados em nossa memória, de tudo aquilo que vivemos e principalmente,
do virmos a viver.
E quando a noite chega, sem TV,
rádio, jornal, e-mails, celular, trabalho, pessoas ou o que quer que possa
fazer com que não pense ou contribua para fugir do que sente e você se recolhe
em seu silêncio, talvez os pensamentos invadam sua mente e o farão lembrar e
refletir o que aconteceu. Em seu íntimo, sentirá a solidão e o vazio do que não
mais existe, existirá o eu e não mais o nós, quem sabe neste momento poderá de
novo valorizar e desejar o juntos ao sozinho, o falar ao calar, partilhar ao
dividir, a paz a briga, espiritualidade ao poder e dinheiro, humildade ao
orgulho, o diálogo ao silêncio, a proximidade a distância. Quem sabe depois de
se encontrar e rever todos esses valores, você poderá permitir-se amar e ser
amado e, juntos voltar a sonhar!
Rosemeire Zago é psicóloga
clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve
o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos,
importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de
cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior.
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